sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

Agora ele é um pássaro

No sítio onde Antony nos leva não se entra de nenhuma outra forma. Lá a atmosfera não se assemelha a nada que se conheça e a singularidade da sua voz é o ar que dá vida a tudo o resto. Fala-se de amor, de dor e de perda mas não se fica por aqui. I Am a Bird Now é um trabalho intimista que funciona quase como uma afirmação da existência andrógina de Antony, um discorrer de episódios em torno da fluidez do género humano.

Começa na solidão, ou no medo de a encontrar, com o lindíssimo (como a palavra soa tão incapaz!) “Hope there´s someone” para acabar em “Bird Gurl” onde Antony ganha asas e rasga o céu em deslumbramento. Pelo meio raramente está sozinho. No início de “Spiralling” tem Devendra Banhart, em “What can I do” a voz inconfundível de Rufus Wainright, Lou Reed abre “Fistful of love” e, na mais surpreendente das participações, um dueto com Boy George chamado “You are my sister”. Um piano, algumas cordas, uma flauta e a voz, a de Antony, o coração em chamas que arde no escuro.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

Um grupo de 481 refugiados do Ruanda regressou na última semana ao país, onze anos depois do genocídio. Em 1994 encontraram abrigo no Uganda, durante uma matança programada que vitimou cerca de 937,000 cidadãos ruandeses de etnia Tutsi e Hutus moderados. As Nações Unidas dizem já ter negociado com as autoridades locais a integração da quase meia centena de pessoas. Recorde-se que, em 2003, o Ruanda e o Uganda assinaram um acordo para a repatriação voluntária de mais de 20,000 refugiados. Os números é que não enganam e desde essa altura apenas 2,500 pessoas regressaram voluntariamente ao país.




quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

Com mãos talentosas trabalha a areia e desenha figuras impossíveis na superfície de um projector. Acompanhada por música, a arte figurativa de Ferenc Cako deixa qualquer um deslumbrado, à medida que os dedos mágicos do artista criam as formas que vão sendo projectadas na tela. Em 1996, o húngaro esteve em Portugal, no Cineanima, altura em que o seu trabalho como cineasta de animação foi também reconhecido. Mas para se perceber realmente do que se trata, e para que não fiquem dúvidas quanto ao brilhantismo do trabalho de Cako, nada melhor do que um vídeo da cerimónia de abertura do SICAF 2003 (Seoul International Cartoon & Animation Festival), onde mostra do que é capaz. Um abraço ao Roger, o outro artista que me mostrou Ferenc Cako.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

Nina Simone foi uma das principais influências de Jeff Buckley, provavelmente mais do que qualquer outro nome, mesmo Leonard Cohen. E foi através de Jeff Buckley que fiquei a conhecer melhor o trabalho da diva Nina. Os dois já morreram e é impossível afastar o lamento de saber que ambos, ele muito mais do que ela, tinham ainda tanto para dar. Mas como acontece sempre a quem realmente o justifica, aquilo que fizeram jamais será esquecido, se é que isto serve de consolo a alguém. De vez em quando lá aparece um filme, um documentário, uma referência ou um outro músico que os lembra e nos faz recordar. A última vez que isso me aconteceu foi com Before Sunset, naquela deliciosa cena final. Celine (Julie Delpy) descreve apaixonadamente os jeitos de Nina Simone em concerto, embalada pelo som da diva em Just in Time, observada, de forma não menos apaixonada, por Jesse (Ethan Hawke). A cena despertou-me para os discos de Nina e de Jeff, estes nunca realmente arrumados na prateleira, e até para a música da própria Julie Delpy. Sobre Julie ainda não posso dizer nada, preciso ainda de a ouvir, sobre os restantes acho que também não preciso de dizer nada.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

...And you will know us by the trail of dead

Worlds Apart marca o regresso dos Trail of Dead, um regresso em grande. Os tons épicos que marcam o início do disco abrem, com excelência, um álbum sóbrio, eclético e com muitos traços de pura inspiração criativa. Numa coisa a Billboard tem razão, os texanos fizeram o seu melhor disco de sempre. Merece uma escuta atenciosa. Se não houver tempo não faz mal, ele há-de chegar a todos.